Breve História de Coronel Xavier Chaves
Segundo relatos orais, já em 1700 se tinha notícias de moradores na região, os primeiros foram os da família de João Gonçalves de Faria Góes e Lara. O capitão português Pedro Bernardes Caminha, avô de João Gonçalves, casou-se em Lagoa Dourada em 1730 com Ângela de Góes Cardoso, nascida na região, exemplificando os casamentos entre portugueses e mineiras. Tiveram oito filhos, dentre os quais Maria Bernardes, mãe de João. O capitão de ordenanças da vila de São João del Rei, Pedro Bernardes Caminha, deve ter sido o responsável pela construção da capela de Nossa Senhora da Conceição do Mosquito, muitas vezes chamada de Mosquito do Mato Dentro ou de capela de Pedro Bernardes na documentação eclesiástica do século XVIII. O mais antigo registro que encontramos com menção à capela data de 1745, como Capela de Nossa Senhora da Conceição da Freguesia da Vila de São José, num batismo de um escravo de Maria Madalena do Sacramento. Em 1752, o registro de Conceição do Mato Dentro começa a aparecer e, em 1757, como pertencente a Pedro Bernardes Caminha. A partir da década de 1770, o registro consolida-se como Conceição do Mosquito ou do Ribeirão do Mosquito, sendo muitas vezes chamada apenas de Capela do Mosquito ao longo do século XIX (Registros Paroquiais de batismo, óbito e casamento – Arquivo Eclesiástico da Diocese de São João del Rei). Segundo o cônego Raimundo Trindade, em 1748, a capela de Conceição do Mato Dentro, filial da Vila de São José era assistida pelo capelão Bernardo José de Faria, conforme anotou o frei Manuel da Cruz sobre o clero que encontrou no bispado de Mariana na referida data (TRINDADE, 1945, p. 360). Hoje é a capela de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Coronel Xavier Chaves, Minas Gerais. O título do Rosário foi adotado em 1920, quando foi construída uma nova igreja matriz com a invocação de Nossa Senhora da Conceição. Originalmente, a capela era rebocada e pintada de branco e azul. É a mais antiga construção ainda existente da antiga fazenda do Mosquito e a tradição oral da cidade, atribui a ela a data de 1717, o que não pudemos verificar em nenhum documento pesquisado. A igrejinha era rebocada e pintada de azul e branco até a década de 1970, quando o pároco Padre Francisco Rodrigues Lustosa, numa reforma, percebeu que a igreja era toda de pedras e resolveu deixá-las à mostra.[1]
A mais antiga sesmaria (documento de doação de terras pelo governo português) que encontramos é datada de 1718, sendo doação da região do Brumado, subordinada a Lagoa Dourada, a Guilherme de Oliveira Lara. Esta região fará parte do município posteriormente. O documento faz menção à ocupação das terras há pelo menos quatro anos, o que nos coloca o ano de 1714 como marco inicial para a ocupação da região, conforme os documentos encontrados. Os filhos e netos da família Faria Góes e Lara fixam moradia nas fazendas próximas: Dois Córregos, Roça Grande e Retiro. Entrando o século XIX, são empreendidos casamentos com outras famílias também: Gonçalves de Melo, Parreiras, Valadão, Mendonça, Resende e Chaves.
A antiga Fazenda do Mosquito, presente em documentação cartorial e eclesiástica desde o século XVIII, é um exemplo de ocupação das terras mineiras sem ligação direta com a atividade mineradora. A fazenda destacava-se na região, sendo que no século XIX, segundo a lista nominativa de 1838, encabeçava um dos quatro quarteirões do Arraial da Lage, englobando uma série de fazendas vizinhas. Subordinado ao termo da Vila de São José Del Rei, o povoado do Mosquito cresceu no fim do século XIX e, em 1911, foi transformado em distrito, sob o nome de São Francisco Xavier, sendo incorporado ao município de Prados. Em 1943, recebeu o nome de Coroas, após um abaixo assinado pedir a mudança do nome de São Francisco Xavier para “Canoas”, nome de uma fazenda vizinha, mas por mal-entendido por ter sido grafado em letra tosca, o edital traz o nome de “Coroas”, como é chamada a cidade até hoje em toda a região. Com a Lei nº 2764, de 1962, tornou-se um novo município, com o nome de Coronel Xavier Chaves. Comemora-se seu aniversário em 1º de março de 1963.
Vindo do Rio de Janeiro, o Major Matheus Mendonça se casa na família já existente e se estabelece no “Retiro”. Torna-se um personagem político influente no século XIX, sendo vereador na Vila de São José Del Rei (atual Tiradentes) já na década de 1830, durante o Período Regencial e no Segundo Reinado, até a década de 1860.
Da fazenda do Jacaré, município vizinho de Lagoa Dourada, vem o Coronel Francisco Rodrigues Xavier Chaves que se casa na família Mendonça e herda a Fazenda do Mosquito. Sua esposa era Joana de Mendonça Chaves e o Coronel Xavier Chaves era bisneto de Antônia Rita de Jesus Xavier, irmã caçula de Tiradentes.
Deve-se registrar que a Fazenda do Pombal, onde nasceu Tiradentes, embora pertencendo ao município vizinho de Ritápolis, dista apenas 8 Km da sede do município de Coronel Xavier Chaves.
A Fazenda do Mosquito foi dividida entre os filhos do Coronel Xavier Chaves e nos lotes foram construídas casas para os familiares. Acredita-se que o próprio coronel fez um traçado urbanístico onde foram construídas 20 moradias, para familiares, padres e outros. Estas casas foram construídas próximas à atual igrejinha de pedra. Mandou construir na chamada Rua de Cima (hoje Rua Major Mendonça), moradias para os trabalhadores em suas propriedades.
O traçado atual da cidade se expandiu tendo o traçado original como referência. Pode-se concluir que a cidade nasceu planejada.
Não se conhece a data exata destes acontecimentos, mas presume-se que seja a última década do século XIX. As casas mandadas construir pelo Coronel foram todas de sua propriedade até 1912. Esta história origina o bairro Centro.
Desde 1908, o Estado de Minas Gerais pagava professores para o povoado. A escola funcionava onde hoje é a Câmara Municipal e possuía 2 turmas mistas do 1º ao 4º Ano (hoje 2º ao 5º), uma de meninos e outra de meninas. Depois tornou-se Escolas Reunidas de Coroas e, finalmente no final da década de 1970, foi inaugurada a atual Escola Estadual Coronel Xavier Chaves.
O bairro Vila Fátima relaciona-se ao final da escravidão. Com a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, assinada pela princesa Isabel, os ex-escravizados receberam da família do Coronel Xavier Chaves o direito de erguer suas casas no território que hoje forma o bairro e já foi chamado de Tanque.
O Cosnec – Grupo de Consciência Negra de Coronel Xavier Chaves, fundado em 2009, tem sua sede na Vila Fátima, onde encontra-se o Centro Afro-Descendente. Hoje, o bairro cresceu mais, com a construção do Conjunto Habitacional São Francisco de Assis, inaugurado em 2011/2012. Também foi criada recentemente (2021) uma área de lazer extensa no bairro, o Espaço Municipal de Lazer e Convivência.
Já o bairro Vila Mendes originou-se de um loteamento organizado pelo senhor José Mendes, que facilitou a aquisição das terras para as primeiras famílias, através de uma espécie de sistema de créditos para a compra. O primeiro morador foi o senhor José Valentim, popularmente conhecido como Tirica. Uma grande empresa já teve sua sede lá, a Semenge. Recentemente, as terras da empresa foram adquiridas pela Prefeitura Municipal. O bairro também está em ampliação com o loteamento chamado Canoas.
O mais novo bairro da cidade, Nossa Senhora da Conceição, surgiu do loteamento da Igreja Católica, organizado pelo Padre Francisco. Nos anos 1980 iniciou-se a urbanização, concluída na década de 1990. A Escola Municipal Sebastião Patrício Pinto, inaugurada em 1998, localiza-se neste bairro, que também sediou a Rádio São Francisco FM. O Residencial Passaredo é um prolongamento urbano que se encontra em processo de obras.
As áreas rurais do município estão relacionadas às primeiras ocupações de fazendas que datam do início do século XVIII, mesma época da formação da Fazenda do Mosquito. Já há duas regiões urbanizadas: Acquaville (Planalto de Fátima) e Parque dos Ipês.
Região de intensa tradição cultural, especialmente música, o município conta com banda de música, artesãos vários e pintores cujos trabalhos são comercializados nos grandes centros. Integrante do roteiro turístico da Estrada Real (Circuito Trilha dos Inconfidentes) e do recém-criado “Trilha de São Tiago”, o município espera desenvolver atividades turísticas mais consistentes.
Referências Bibliográficas:
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, Rio de Janeiro: Itatiaia, 1995, p. 103
PINTO, Fábio Carlos Vieira. O Quarteirão do Mosquito: Famílias, Fazendas e a Economia Agropastoril das Minas Gerais (Séculos XVIII e XIX). Jundiaí-SP: Paco Editorial, 2022.
TRINDADE, Cônego Raimundo. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro: Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Educação e Saúde, 1945.
[1] Dados retirados de <https://coronelxavierchaves.mg.gov.br/prefeitura/2017/04/01/igreja-de-nossa-senhora-do-rosario/>. Acesso em 06/05/2020.